sábado, 21 de dezembro de 2013

Curso é suspenso após mortes de Policiais Militares

Ontem, sexta-feira (20), a Polícia Militar divulgou as fotos do Teste de Habilidade Específica (THE) para participação do Curso de Operações Policiais Especais (Copes), realizado na segunda-feira (16).
Foto: Divulgação
Na ocasião, quatro policiais militares passaram mal. Dois deles morreram, um está internado em estado grave e outro teve alta médica na quinta-feira (19). Ao todo, 67 PMs participaram da prova.

A avaliação física foi realizada no quartel do Batalhão de Polícia de Choque, em Lauro de Freitas, região metropolitana de Salvador. As imagens mostram algumas etapas do teste: alongamento, prova e atendimento a um dos PMs que morreu após sentir mal-estar durante a prova. Em entrevista, o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Alfredo Castro, informou que o curso foi suspenso por tempo indeterminado.

“A previsão era de que a segunda fase tivesse início no de 3 [de janeiro de 2014]. Por questão de precaução, nós suspendemos o curso. Desses 67 que fizeram a prova, somente quatro perderam. Infelizmente, foram aqueles que passaram mal. Então, nós temos 63 aptos pra iniciar o curso e dar continuidade, mas isso já está comprometido”, afirmou.

O comandante voltou a afirmar que todos os policiais que participaram da prova passaram por uma bateria de exames e estavam aptos a realizar o teste. Segundo ele, nas seis edições do teste que já foram realizadas, nenhum policial havia passado mal.

“Não esperávamos que isso acontecesse. O homem que foi pra lá já foi preparado. Teve um teste que antecedeu esse, em que eles tiveram que fazer 4 km em uma média de 17 minutos. Dessa vez, ele ia percorrer 10 km em 60 minutos. Não é um teste de quem chegar primeiro, é um teste de condicionamento físico. Não é aquela disputa. É uma tropa, onde todos correm juntos”, garante o comandante.

Alfredo Castro também falou sobre a “pressão psicológica” e destacou a capacidade que os policiais devem ter para lidar com diferentes situações. “Existem mecanismos, ensinamentos, que você tem que estar sob pressão para dar resposta. Vou dar um exemplo. Em situações de refém, nós temos o gerenciador de crise, que é o cara que vai pra lá e fica negociando. Se ele não tiver um certo controle, ele comete coisas que não devem ocorrer. Ele tem que ter o preparo necessário para responder a isso. O policial que é do Comando de Operações Especiais tem que ser um bom atirador. Ele pode salvar vidas com um tiro. Então não pode ser psicologicamente uma pessoa mal preparada. Então toda essa estrutura do curso eu não vejo, e até agora não se tem nada de registro, que tenha um desvio. A pressão psicológica talvez faça parte do curso, de uma técnica”.
Sobre as investigações do caso, o comandante afirmou que a previsão é de que o inquérito seja encerrado em um prazo de 40 dias.

“Nós estamos trabalhando em todas as vertentes. Primeira vertente da etapa, alguns procedimentos que foram tomados, se houve negligência ou imprudência dos nossos coordenadores e estrutures do curso. E a outra vertente é a causa da morte dos policiais”.

Sepultamentos
Com honras militares e homenagens do Batalhão de Choque da Bahia, o soldado da Polícia Militar do Estado, Luciano Fiuza de Santana, de 29 anos, que faleceu após sentir um mal-estar foi enterrado na tarde de quinta-feira (19), no cemitério do Campo Santo, em Salvador. Já o soldado Manoel Reis Freitas, 34 anos, foi sepultado em Valença, Baixo Sul da Bahia.
Uma hora antes do sepultamento, ocorrido por volta das 16h30, cerca de dez representantes da Associação dos Policiais, Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra) realizaram uma caminhada da Câmara Municipal de Salvador, no centro da cidade, até o Ministério Público do Estado (MP-BA), no bairro de Nazaré.

Liderados pelo vereador Marcos Prisco (PSDB), que também coordena a associação de militares, o grupo entregou aos representantes do MP-BA uma representação em que solicita uma investigação detalhada da morte dos policiais.

Segundo um dos diretores da Aspra, Fábio Brito, o documento não acusa o PM de negligência. “Não fazemos acusações na representação, porque não vimos o que de fato ocorreu no local. Entretanto, pedimos que o MP averigue o caso de forma isenta. Não podemos afirmar que houve negligência, mas exigimos esclarecimentos das circuntâncias”, disse Fábio Brito.

Análise de “substâncias”

O secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, afirmou que uma perícia vai averiguar se os quatro policiais militares que passaram mal durante o Curso de Operações Policiais Especiais (Copes) da PM tomaram alguma substância para melhorar o condicionamento físico.

Em entrevista à Rádio CBN Salvador, na quarta-feira (18), Barbosa disse também que será investigado se houve excessos no processo seletivo.

“A gente está investigando se foi algum excesso na seleção, porque, na verdade, eles não estavam ainda no programa de treinamento, estavam se habilitando para isso. Mas uma coisa nós sabemos: que para se habilitarem a este tipo de atividade, eles precisam entregar alguns exames médicos, e estes exames comprovavam que eles tinham capacidade para fazer aqueles exercícios. Então, estamos estudando e o resultado da perícia vai ser fundamental para dizer se eles tomaram algum tipo de medicação, algum tipo de substância para melhorar o condicionamento físico. Isto tudo vai ser avaliado, e depois disso nós vamos emitir um parecer, e até, se for o caso, a modificação na forma de ingresso destes policiais nas Forças Especiais”, disse Maurício Barbosa.

O Copes é um curso destinado a capacitar policiais às atividades de operações especiais de alto risco. Segundo a Polícia Militar, “todo candidato se inscreve voluntariamente e é obrigado por força de edital a realizar uma bateria de exames médicos de ordem laboratorial e cardíacos, e ainda apresentar atestado médico indicando estar apto para a realização de testes de esforço físico”.

Família lamenta
“Nós não entendemos o que aconteceu, queremos saber o que houve. Ele estava em plena forma física, não tinha problemas de saúde, não bebia, não fumava. Como um homem vai morrer em uma corrida de 10 km?”, afirmou Toni Moreno, irmão do soldado Manoel Reis Freitas. “Ele era um menino instruído. Era um sonho dele entrar para o batalhão, mas o sonho dele foi acabado”, lamenta a tia Maria das Neves.

O soldado chegou a terminar o teste, que consistia em uma corrida de 10 km, mas apresentou sintomas como náuseas e foi levado para o Hospital Menandro de Farias. Ele foi transferido para o Hospital Aeroporto, onde morreu na noite de terça-feira (17). Nesta quarta-feira (18), familiares foram até o Instituto Médico Legal (IML) liberar o corpo do soldado.
“Meu irmão teve convulsão e chegou no hospital já respirando com a ajuda de aparelhos. No hospital fizeram teste toxicológico e não deu nada. É muito estranho”, afirma Toni Moreno. A PM informou que o soldado que morreu “apresentou quadro de insuficiência renal, sendo acometido de uma parada cardíaca”.

Manoel deixa filha e esposa. Ele era lotado da 4ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM) – Macaúbas. “Em Macaúbas, todo mundo do batalhão estava feliz por ele. Era importante para o batalhão que alguém de lá estivesse fazendo o teste. Era uma honra”, acredita a tia Maria das Neves.

Os familiares contam ainda que Freitas tinha nível superior e sonhava entrar para o batalhão. “Nós sabemos do risco dele morrer por causa de tiros, mas morrer por causa de uma corrida de 10 km nós não entendemos. Ele estava muito contente, feliz por ter passado nas outras fases do teste. Ele queria crescer dentro da polícia”, afirma Toni Moreno. As informações são do G1.

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